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16/4/2004
Por Eduardo Geraque
Para o oceanógrafo Rolf Weber, da USP, o esgoto, e não o petróleo, é o grande vilão da poluição das águas marinhas (foto: E.Geraque)
Agência FAPESP - A imagem projetada no telão foi emblemática. Com a Baía da Guanabara ao fundo, Rolf Weber, professor do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP), apresentou a síntese de sua tese. Enquanto o local, um dos cartões-postais mais atraentes do Brasil, recebe 1,3 metro cúbico de petróleo ao ano, originário de diversas fontes, as mesmas águas recebem 18 metros cúbicos de esgotos – só que por segundo.
"Não existe dúvida. O petróleo não é o grande vilão da poluição das águas marinhas, como muitos imaginam. Claro que os vazamentos geram mais comoção e realmente são prejudiciais, mas não são o principal problema", disse à Agência FAPESP um dos principais oceanógrafos químicos do Brasil, que esteve em debate sobre poluição das águas, realizado dentro das programações do simpósio Patrimônio Ambiental Brasileiro, encerrado nesta quinta-feira (15/4), no anfiteatro do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP).
A grande quantidade de matéria orgânica, praticamente sem tratamento prévio, despejada nos oceanos todos os dias, não causa transtornos apenas para o equilíbrio ecológico dos ambientes marinhos. "Isso é um problema de saúde pública. As pessoas em contato com essas águas podem contrair cólera, hepatite, diarréias ou dermatoses", afirmou Weber.
Por causa da circulação oceânica, o impacto das altas quantidades de matéria orgânica é muito maior em locais abrigados, como baías ou enseadas. "Podemos dizer que praticamente não existe poluição nos oceanos profundos. Em todo o mundo, os problemas se restringem à costa". Segundo o oceanógrafo, mesmo as praias dos mares Mediterrâneo e Báltico, durante o verão, sofrem com a presença da poluição.
Um dos maiores especialistas em águas doces do Brasil, Aldo Rebouças, do Instituto de Estudos Avançados da USP, defende que o poder público e a sociedade em geral olhem com mais cuidado para os esgotos lançados ao mar. "O problema da poluição não é científico e nem tecnológico. Essa é uma questão para ser resolvida no âmbito político e econômico", disse.
Também presente no simpósio, Rebouças não poupou críticas aos três níveis governamentais. "O Brasil não tem problema de água. O que estamos vivendo é uma grave ausência de gestão de recursos hídricos", disse em apresentação realizada diante de um auditório lotado.
Referência Bibliográfica
GERAQUE, Eduardo. Mar sente mais esgoto que petróleo. Agência FAPESP, São Paulo-SP,16 abr. 2004. Disponível em: http://www.agencia.fapesp.br/materia/1659/noticias/mar-sente-mais-esgoto-que-petroleo.htm. Acesso em: 24 nov. 2010.
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