O trecho de 62,7 km do litoral baiano, entre a Praia do Forte e Baixio, na Costa dos Coqueiros, é praticamente desabitado, sendo que em alguns trechos é possível se caminhar até 12 km sem se avistar uma casa ou outra pessoa. Infelizmente, apesar destas praias serem desabitadas, a ação Praia Local, Lixo Global encontrou ali um verdadeiro cemitério de embalagens industriais.
Como estas praias terminam em barrancos de areia cobertos por uma vegetação rasteira, o lixo global levado pelas marés até as praias acaba sendo depositado nestes barrancos, onde não é coletado, mas, sim, soterrado pela movimentação da própria areia, causada por chuvas, ventos, marés, etc, transformando a Costa dos Coqueiros em um cemitério de embalagens.
As pessoas que caminham nestas praias desertas não gostam de caminhar pelos barrancos, pois a areia é fofa e quente, e acabam caminhando próximo à água. Devido à distância, não enxergam o lixo que está escondido nos barrancos esperando para ser soterrado, apenas os pescadores que costumam deixar seus pertences ali nos barrancos sabem da existência deste lixo.
Porém, nas praias onde há vilas, o lixo não tem mais onde se esconder. Com o aumento do movimento de pessoas sobre os barrancos, seja para ter acesso à praia, às barracas de praia, a restaurantes, etc, a vegetação rasteira que cobre os barrancos desapareceu e, como são suas raízes que sustentavam os barrancos, estes, por sua vez, também desapareceram, deixando o lixo cada vez mais aparente, até para quem caminha próximo à água.
O cemitério de embalagens causa sérios danos ao meio ambiente, além de por em risco a saúde das comunidades da Costa dos Coqueiros. Mas não apenas as embalagens soterradas são perigosas para a vida local, o lixo que ainda se encontra no mar, a caminho das praias, também representa perigo e prejuízo para os pescadores. Os sacos plásticos, por exemplo, bloqueiam as entradas de ar dos motores dos barcos provocando seu super aquecimento e causando prejuízo aos pescadores pelos dias parados e gastos com o reparo, além de por em risco a vida daqueles que trabalham em alto-mar. As redes e linhas de pesca abandonadas enroscam nas hélices e paralizam os motores dos barcos, além de continuarem pescando, fato localmente chamado de “pesca fantasma”, o que também causa um grande prejuízo aos pescadores e à comunidade da região.
O lixo global continua chegando em quantidades alarmantes. “Se tudo que chega aqui estivesse cheio, bom para uso, eu poderia até abrir um mercado”, disse um pescador nativo da vila localizada na praia naturista de Massarandupió. “Já me acostumei com os bunda de fora aqui na praia, mas com este lixo não”, completou. Os naturistas chegaram depois do lixo global que, de acordo com depoimentos de pescadores, surfistas e mergulhadores, chega às praias da Costa dos Coqueiros desde o início da década de 60.
O lixo que fica na praia será soterrado e, se depender do tipo de embalagem, ficará de alguns meses a alguns séculos para se decompor. No caso das embalagens de vidro serão necessários um milhão de anos. A velocidade com que o lixo será soterrado depende, por um lado, da movimentação da areia, determinada pelo tipo de areia, vegetação nativa, inclinação da praia, ventos e chuvas e, por outro lado, pelo tamanho, peso, formato, posicionamento e tipo de embalagem.
Como nas encantadoras praias da Costa dos Coqueiros a própria natureza se encarrega de disfarçar a sujeira dos homens, varrendo o lixo para baixo de suas areias, é difícil calcular quantas embalagens encontram-se soterradas ali e quantos séculos serão necessários para que elas se decomponham.
Referências Bibliográficas
PRAIA Local Lixo Global. Cemitério de Embalagens. Disponível em: http://www.globalgarbage.org/site_antigo/public_html/cemiterio.php. Acesso em: 7 out. 2010.
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